quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Pena de Morte - Eis a Questão

Lembro claramente de uma cena que presenciei e que me chocou muito quando eu tinha lá meus 14 anos. Estava na sala de aula, quando vi uma mariposa se aproximando da janela. Eu, que na época ainda tinha medo desses animaiszinhos voadores, mariposas e borboletas em geral (agora já me curei e esta história eu conto numa próxima vez), fiquei torcendo pra que ela não consiguisse entrar pelo basculante da janela, quando de repente, uma pomba assassina apareceu e devorou a frágil mariposa bem na minha frente. Ainda vi a cara de satisafação da pomba, que antes de ir embora ainda me deu uma piscadela como quem diz: te salvei dessa! Fiquei chocada. Paralisada.

Pode parecer um tanto quanto exagerada a minha reação, mas considerando que sou e sempre fui uma menina da cidade grande, eu só tinha visto cena como essa no Discovery Channel.


Do mesmo modo me lembro vividamente de um outro trauma, de uns anos antes, quando vi na escola um video em que as grandes baleias orcas quase encalhavam pra conseguir caçar e devorar sem dó nem piedade as fofas e simpáticas foquinhas. Trauma também tenho do dia em que descobri, aos 8 anos de idade, que as mulheres menstruavam. Menstruação, até hoje odeio essa palavra que me parece mais apropriada pra um instrumento de tortura- com certeza algumas mulheres vão concordar comigo, coisa que os homens nunca entenderão, já que pra eles a palavra soa mais como um alívio, temporário que seja: "ufa, não foi dessa vez..."

Mas, voltando a falar de grandes traumas, a morte com certeza é o maior deles.
Embora eu seja uma pessoa felizarda, já que minha família não passou por nenhuma grande tragédia decorrente da morte, acho que toda vez que a morte se aproxima da nossa realidade, é difícil ser imparcial com relação à ela.

Mal estar, sensação de impotência e fragilidade, revolta, são muitos os sentimentos que a presença da morte pode nos proporcionar.

Digo isto porque nos últimos meses temos sido bombardeados com notícias sobre a morte, sobre as crueldades da homem, o que nos faz relembrar a incapacidade humana.
Alguns exemplos inesquecíveis: Menino de 7 anos arrastado por 7 km, aviões que matam centenas de pessoas inocentes, buraco do metrô que engole gente e enterra vivo, tiroteio na av. ibirapuera, nas favelas do Rio, guerra do Iraque, sem contar os acontecimentos naturais, tsunamis, terremetos, furacões, alagamentos, entre outros, que até parecem razoáveis comparados às atrocidades do bicho homem...

Mas uma notícia que particularmente me chocou dias atrás foi a da menina violentamente morta em Curitiba.
Como sabem, ou nem sabem, Curitiba é minha cidade de coração, morei lá por muitos anos. Metade da minha vida pra ser mais exata.
Sempre soube que lá, a prática do "Sequestro Relâmpago" está cada vez mais comum, apesar do esforço da polícia e do governo pra tentar esconder as estatísticas, eu, como eterna estudante do Direito, já havia sido informada da necessidade de maiores cuidados ao dirigir sozinha, por ser mulher.

Mesmo assim, não é fácil (e espero que continue não sendo) aceitar a notícia com facilidade, porque este não foi um sequestro qualquer, pra dizer bem a verdade nem acho que tenha sido um sequestro, até porque não houve pedido de resgate.
O que aconteceu foi mais ou menos o seguinte: 2 adolescentes armados abordaram uma menina de 18 anos quando esta chegava na sua academia, em pleno centro da cidade, levaram-na junto com seu carro, e como ela não levava dinheiro ou cartão de crédito, eles rodaram 4 ou 5 horas no carro dela, levaram ela pra um mato, a violentaram, deram um tiro na sua boca e queimaram seu corpo nu. Dia seguinte queimaram também o seu carro, no mesmo local.
Tudo isso porque ela não tinha 30 ou 50 reais pra dar a eles, para que pudessem comprar seus entorpecentes.
Ela não tinha dinheiro. E eles, pelo visto, não tinham dignidade, decência, educação mínima,
ou qualquer indício de discernimento. Só tinham a cabeça cheia de drogas.

Não acho que colocar a culpa nas drogas é a solução. Este caso é um belo exemplo do que pode se tornar ainda mais comum se continuarmos a fechar os olhos pros problemas sociais do Brasil e do Mundo.
Não acho que nada explique, muito menos justifique a reação desses garotos, assassinos de sangue frio. Mas a culpa toda não é só deles. É mais um caso de triste coincidências. Todos fatores negativos estavam latentes e até potenciais naquele momento. Não foi acaso, foi consequência.

Será que a solução é diminuir a maioridade penal, pra que esses delinquentes possam se pós-graduar na prisão ainda mais cedo? Será que a solução é admitir a Pena de Morte no nosso país?

Já temos a Pena de Vida. Isto está bem claro. Pense o que a morte representa pra esses adolescentes? nada? talvez nada x nada. A vida deles nunca teve longe da morte.
Talvez ela até represente uma libertação pra essas pobres almas. Pobres de espírito, de consciência, de dignidade.

Mas o que podemos esperar ou exigir desses seres? Talvez da pomba e da baleia orca possamos exigir mais, pois estas matam pra não morrer de fome, enquanto os outros matam pro puro divertimento ou por pura falta de noção de tudo.

Temos que exigir o resultado dos impostos que pagamos, o resultado dos políticos que elegemos, o resultado da nossa conduta perante a Sociedade e perante o mundo como um todo.

Queria que a Constituição Federal pudesse ser respeitada, nestes artigos que menciono abaixo e em todos os outros:
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I- construir uma sociedade livre, justa e solidária; III- erradicar a pobreza e a marginalidade; IV- promover o bem de todos.
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes do país a inviolabilidade do direito à VIDA, à LIBERDADE, à igualdade, à SEGURANÇA, à propriedade.

Que fique claro com esse texto a crítica foi feita à todos nós, inclusive eu mesma, e que não tento com ele justificar a atitude dos marginalizados ou criminosos.

Sou totalmente contra a violência e nada no mundo a justifica.

Paz e Amor pra todos nós.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo texto!

Tenho que admitir que mudou um pouco o meu conceito sobre pena de morte, mas ainda sim sou a favor, digamos que estou menos xiita.

Anônimo disse...

Shana, teu texto tem muito a haver com a nossa sociedade e tudo isso se traduz pela qualidade de vida dos cidadãos. A criação de um filho depende de muitos fatos e atos. Um pai que fala perto de uma criança que o negócio é roubar, porque os corruptos roubam e não são penalizados. A vingança, ignorando a Lei, leva também a pessoa a criminalidade. A não divulgação de temas importantes à população faz que esta desconheça fatos de direitos e deveres. Voce liga a televisão, ela só apresenta novelas, BBB e outros desinformes da vida curriqueira. Será que os alunos de nossas escolas são direcionados a leitura de bons livros? Os professores estão treinados para conceder uma boa aula, eles conhecem os deveres e direitos, alguns conhecem os artigos da Constituição Brasileira citados por você? É infelizmente não acontece a verdade dentro da base da educação, a FAMÍLIA. Esta está deteriorada e se a base da sociedade é a Família a nossa esta corrompida e destruida. E para concluir, falar em Pena de Morte sem falar em Pena de Vida é acabar com a nossa Patria corrompida pelas Instiuições (todas).